Morei quatro anos em Piracicaba, interior de São Paulo, no período que cursei a faculdade de Jornalismo. Morei em uma republica (que será tema de vários “causos” neste blog) com uns caras mais locos que eu.
Como todo estudante, o dinheiro era ‘contadinho’ para passar a semana. Estudava a noite e passava o dia todo sem fazer nada, pensando na vida. Pensando no futuro. Teve um período da minha vida em Piracicaba que eu esperava 11h30 e ia até o açougue comprar meu almoço. Chegava todo santo dia e pedia para o açougueiro:
– Por favor, 1 real em bife.
– Pois não.
Ele me cortava dois bifes bonitos que era o suficiente para o meu almoço. Tinha dia que estes dois bifes custam R$ 1,10, tinha dia que custava R$ 0,90. Mas sempre pagava o mesmo 1 real.
Comprado o bife eu ia para a republica e colocava em uma panela um copo americano de arroz e dois copos americanos de água. Esperava o arroz ficar ‘papa’ e pronto. Fritava os dois bifes e já estava ‘comido’.
Acredito que este ritual de ir todo dia ao açougue e pedir 1 real de bife durou uns 15 dias. Foi quando no 16º algo aconteceu. Cheguei ao açougue no mesmo horário de sempre e para o mesmo açougueiro fui fazer meu pedido. Só que em vez de falar a frase mágica: – Por favor, 1 real em bife. Eu mudei:
– Por favor, dois bifes.
– Pois não.
Ele me cortou dois bifes, pesou, embrulhou e disse:
– São R$ 2,80.
O que?? O que aconteceu com os dois bifes por 1 real? Ai que eu percebi. Pedi dois bifes e não 1 real em bife.
O açougueiro cortou dois bifes maiores e mais pesados.
Por conta desta sacanagem com um pobre estudante de jornalismo ele perdeu um cliente fiel que gastava R$ 7,00 por semana e, quem sabe, R$ 21,00 no mês.
Mas quis ser “espertão”. Perdeu playboy.